Apresento 
                                        algumas poesias do nosso amigo, Tarquinio 
                                        Castro Leite, o poeta, iniciando com uma 
                                        poesia, que ele me presenteou, trazendo-a 
                                        para mim, pessoalmente e ao qual, agradecemos 
                                        de coração!
                                       
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                                      YARA
                                       
                                      (Tarquinio 
                                        C. Leite)
                                       
                                      Yara 
                                        é graça ameríndia
                                        da taba tupi
                                        ou uma senhora.
                                      Esta 
                                        recordação
                                        me deixa imerso
                                        com estes versos
                                        na Amarração.
                                      Quando 
                                        penso em seu nome 
                                        me vem à lembrança Diana
                                        sua irmã e minha irmã
                                        - a primeira parnaibana
                                        a segunda do Pericumã.
                                      Esta 
                                        poesia
                                        estava guardada
                                        no meu coração
                                        como o mês de setembro
                                        guarda a floração.
                                      Gostaria
                                        de apresentá-la
                                        com um buquê
                                        de rosas vermelhas
                                        para homenageá-la
                                        e a Juarez meu amigo
                                        como num rio dourado
                                        a deslizarem comigo.
                                       
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                                      CICI, 
                                        MINHA MÃE
                                       
                                      (Tarquinio 
                                        C. Leite)
                                       
                                      Minha 
                                        mãe partiu
                                        sem ter plantado as flores
                                        completas de seu jardim.
                                        Um segmento de vida
                                        foi condensado num instante
                                        de estupefação e dor.
                                        Foi sem nunca ter ouvido
                                        de seus filhos a doçura
                                        que mais sabia ser: mãe.
                                        O seu nome maternal
                                        era cantado por nós,
                                        repetindo a nota si.
                                        Era um nome nome musical
                                        A pronúncia de Cici.
                                      (Do 
                                        Livro do Autor: Arroz de Pilão-1988)
                                       
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                                      CONSELHO 
                                        DE MEU PAI (*)
                                       
                                      (Tarquinio 
                                        C. Leite)
                                       
                                      O 
                                        algodoeiro já floriu.
                                        Faz tempo que a juriti cantou
                                        no amanhecer e que eu subi
                                        os degraus da escola.
                                      Preciso 
                                        crescer mais;
                                        nem sempre sou bom como a chuva
                                        no sertão nordestino.
                                        Às vezes sou agressivo
                                        como o pio do faminto carcará.
                                      - 
                                        doutô, a saúde tem que ser
                                        preservada,
                                        a leitura é pão do espírito,
                                        e não te esqueças de cultivar
                                        amizades.
                                      Continuo 
                                        suando no tempo,
                                        driblando pedras e a força
                                        da maré da vida.
                                      Agarrado 
                                        à filosofia de meu pai,
                                        tento manter a fera longe,
                                        a vida próxima,
                                        os livros nos olhos,
                                        os amigos no peito.
                                        Mas nem sempre chove
                                        no sertão nordestino.
                                      (Do 
                                        Livro do Autor: Diapasão do Mormaço-1994)
                                       
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                                      ARROZ 
                                        DE PILÃO
                                       
                                      (Tarquinio 
                                        C. Leite)
                                       
                                      Bota 
                                        o arroz no pilão,
                                        seguram mãos calejadas
                                        roliça mão-de-pilão.
                                        Soca Maria suando.
                                        Soca Teresa gemendo,
                                        na dança sincronizada,
                                        suada, gemida, alada.
                                      Quando, 
                                        de uma, sovacos
                                        respiram, a parceira soca;
                                        e batem com muita força
                                        a secura do arroz.
                                        
                                      É 
                                        hora da peneirada.
                                        Rebola Maria, funga
                                        Teresa, pinga e fumaça;
                                        as cascas voam e o arroz desce,
                                        como no vôo do tem-tem,
                                        dando formas coreográficas
                                        ao vento que vai-e-vem,
                                        igual saudade açoitando
                                        as lembranças de alguém.
                                      (Do 
                                        Livro do Autor: Arroz de Pilão)
                                       
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                                      CONTRASTES 
                                        E TROCADILHOS
                                       
                                      (Tarquinio 
                                        C. Leite)
                                       
                                      Na 
                                        árvore
                                        mora a rola
                                        fogo-pagou,
                                        no asfalto,
                                        o rolo
                                        compressor.
                                      No 
                                        bosque
                                        canta
                                        o sabiá,
                                        na escola,
                                        o sabe “a”
                                        descreve
                                        o sabiá.
                                      Na 
                                        cidade
                                        o homem mora
                                        em edifício,
                                        na roça,
                                        é difícil
                                        morar em edifício.
                                       
                                        (Do Livro do Autor: Diapasão do 
                                        Mormaço-1994)
                                       
                                      *********
                                       
                                      EU 
                                        E A MUDANÇA
                                       
                                      (Tarquinio 
                                        C. Leite)
                                       
                                      Conflitos 
                                        de emoções na mudança.
                                        Sou cidadão do mundo, viajando
                                        Na equivocidade do fim. Lá me vou
                                        Aos oito anos no rumo do poste de luz,
                                        Na morrinha do carro de bois.
                                        Tem um curral de saudades
                                        para trás e um monte de dúvidas
                                        para frente.
                                        Meu primeiros suspiros tem a ternura
                                        do canto do vim-vim e tristeza
                                        do menino sem brinquedos.
                                      Os 
                                        bichos se desmancham nas nuvens,
                                        enquanto eu respiro poeira e bosta
                                        de boi no choro do carro de bois.
                                        A alegria tem sabor de dúvida,
                                        Mexendo em tenras raízes.
                                      O 
                                        oiteiro Peito-de-Moça some
                                        Na revoada de lépidas borboletas,
                                        O cheiro da terra é pó de 
                                        saudades.
                                      Eis-me, 
                                        de repente, com síndrome
                                        Do medo. Medo de partir,
                                        Medo de ficar, medo da polícia,
                                        Medo danado da escola.
                                      E 
                                        política, que é isso?
                                        O carro não tem culpa do caminho,
                                        Eu tenho dúvidas no espaço.
                                        A viagem é estúpida. Estúpido
                                        É o ferrão da tatajuba.
                                      Começo 
                                        conhecer este Brasil de Deus;
                                        o caminhão, o poste de luz,
                                        o matadouro público, de piso
                                        cimento (onde o boi escorrega
                                        para morrer). As ruas de areia branca.
                                      Está 
                                        consumada
                                        da chapa para Pinheiro.
                                        Oh, inútil saudade.
                                      (Do 
                                        Livro do Autor: Diapasão do Mormaço-1994)
                                       
                                      ***********
                                       
                                      FLORES 
                                        DE AÇUCENA
                                       
                                      (Tarquinio 
                                        C. Leite)
                                       
                                      Como 
                                        na vastidão da Antártica
                                        (vista no televisor)
                                        vejo abelhas embebidas
                                        em flores de açucena
                                        lá do meu Paraguaçu.
                                      Eu 
                                        era menino descalço
                                        no mundo da bola,
                                        mas sabia que não eram
                                        flores de acácia
                                        porque minha mãe dizia
                                        que eram flores de açucena.
                                      Hoje 
                                        percebo
                                        que já reverenciava
                                        flores de açucena
                                        quando menino,
                                        mas reconheço
                                        que antes de as venerar,
                                        os insetos já as festejavam.
                                      Resta-me 
                                        o consolo
                                        de relembrá-las.
                                        apenas relembrá-las.
                                      (Do 
                                        Livro do Autor: Arroz de Pilão-1988)
                                       
                                      *********
                                       
                                      MINHA 
                                        CASA
                                       
                                      (Tarquinio 
                                        C. Leite)
                                       
                                      Minha 
                                        casa é o corredor
                                        por onde infinitas vezes
                                        meus pés nus
                                        deixaram marcas
                                        da macega do sol, e
                                        onde meu pai sorveu
                                        o saibro da vida.
                                      Lá, 
                                        os dias
                                        eram pequenos demais
                                        e as noites
                                        amanheciam na rede.
                                        Lá, embalei sonhos
                                        sob o (e)terno olhar
                                        da minha mãe.
                                      Minha 
                                        casa é marca
                                        azul no espaço
                                        e refúgio amargo
                                        do tempo.
                                        Não sei de pedras
                                        ou de mastros de sal
                                        não enfrentados
                                        na avidez das férias.
                                      Minha 
                                        casa soluça
                                        meus gestos
                                        e retém
                                        meu grito de dor
                                        pela ternura partida
                                        nas asas
                                        da prematuridade.
                                      (Do 
                                        Livro do Autor: Pedras do Caminho Azul-1990)
                                       
                                      *********
                                      
                                        
                                      *******
                                      
                                        Obrigada, pela visita!
                                        Yara Maria