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PÁGINA ESPECIAL
IN MEMORIAN

 

Nesta página especial, faço uma homenagem a um amigo nosso, aquele que é também como um irmão, para nós. E, para apresentá-lo, tenho que contar um pouco da nossa história. Eu tinha treze anos quando comecei a namorar com meu marido, que na época tinha vinte e seis anos e havia sido transferido por motivo de trabalho, para a minha cidade natal. Foi meu primeiro namorado e único e naquela época, uma "menina" da minha idade, só entendia de estudar, tocar piano, dançar ballet clássico, rezar, brincar de bonecas, de brincadeiras de roda, de ler e ouvir os contos de fadas. Meus pais tomaram conhecimento da vontade dele em me namorar, porque ele foi na nossa casa de surpresa, pedir permissão aos meus pais! Meus pais gostaram logo dele e permitiram o nosso namoro, mas ficou combinado que ele iria na nossa casa, nas quartas-feiras e nos domingos, das 19:00 às 21H00 e que não procuraria se encontrar comigo fora da nossa casa. E assim foi feito! Mas então começou a troca de bilhetinhos e recados, entre eu e meu marido, através de dois amigos e colegas dele de trabalho. E um deles, é o homenageado desta página, que inclusive, estava sempre presente nos acontecimentos que marcaram o início da nossa história, a minha com meu marido. Além de outros momentos, esteve presente no novo noivado e foi um dos nossos padrinhos de casamento. Depois de algum tempo, foi transferido para São Paulo e lá casou com uma descendente de alemães e, por coincidência, quando viemos para Brasília, eles também vieram e moramos vizinhos, durante quatro anos. Seguramos os filhos deles no colo e eles também seguraram os nossos! Depois ele foi transferido para Goiânia/GO, onde residem até hoje, mas estamos sempre em contato, indo lá e eles vindo aqui. Bem, agora faço a apresentação do poeta amigo,

TARQUINIO CASTRO LEITE.

Nascido em Pinheiro, no estado do Maranhão, formado pela UFG - Universidade Federal de Goiás, em Pedagogia, com especialização em Administração Escolar, é casado com Érica Peyerl Bunese Leite e têm três filhos, Carlos Augusto, formado em medicina com especialização em Oftalmologia e atualmente é o nosso oftalmogista, aqui em Brasília. Luís Tarquinio, formado em Engenharia Civil e Sandra Maria, funcionária de uma multinacional.

Tarquínio, começou a se interessar pela poesia na década de quarenta e já tem sete livros publicados: Casta de Robôs/1988, Arroz de Pilão/1988, Pedras do Caminho Azul/1990, Diapasão do Mormaço/1994, Pétalas Caídas/1996, Deuses da Roça/1999, Coisas de Pinheiro/2000 e o próximo a publicar: Nascente das Águas. É um poeta que descreve fatos da sua terra natal, fala nos seus versos, de sentimentos próprios, de fé, de ternura e nas entrelinhas, percebe-se todo o seu romantismo.

A você, Tarquinio, nosso amigo, nosso irmão, a minha homenagem!

Com carinho.

Yara Maria


Nesta foto, no dia do nosso noivado, meu marido eu e Tarquinio.

Após o nosso noivado, meu marido foi transferido para São Luís/MA e só veio para a minha cidade, dois dias antes do nosso casamento e Tarquinio foi lá, buscá-lo. Na foto os dois, no aeroporto de São Luís, aguardando o momento do embarque.

Tarquinio, à esquerda, como um dos padrinhos do nosso casamento.

 

Tarquinio e sua esposa, Érica, em
São Paulo, no seu casamento, no civil.

Nossos filhos, brincando com os filhos de Tarquinio e Érica. Nossa primeira filha, em pé e, da esquerda para direita, nosso segundo filho, o primeiro filho deles, a filha caçula deles, o segundo filho deles e nosso terceiro filho. Nessa época, nosso filho caçula, ainda não havia nascido, mas já o aguardávamos.

Tarquinio e meu marido, em Goiânia/2003.

  


Eu e Érica, em Goiânia/2003

Eu, meu marido e Tarquinio, no dia 12/06/04, em um almoço na casa de uns amigos, aqui em Brasília.

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Apresento algumas poesias do nosso amigo, Tarquinio Castro Leite, o poeta, iniciando com uma poesia, que ele me presenteou, trazendo-a para mim, pessoalmente e ao qual, agradecemos de coração!

 

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YARA

 

(Tarquinio C. Leite)

 

Yara é graça ameríndia
da taba tupi
ou uma senhora.

Esta recordação
me deixa imerso
com estes versos
na Amarração.

Quando penso em seu nome
me vem à lembrança Diana
sua irmã e minha irmã
- a primeira parnaibana
a segunda do Pericumã.

Esta poesia
estava guardada
no meu coração
como o mês de setembro
guarda a floração.

Gostaria
de apresentá-la
com um buquê
de rosas vermelhas
para homenageá-la
e a Juarez meu amigo
como num rio dourado
a deslizarem comigo.

 

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CICI, MINHA MÃE

 

(Tarquinio C. Leite)

 

Minha mãe partiu
sem ter plantado as flores
completas de seu jardim.
Um segmento de vida
foi condensado num instante
de estupefação e dor.
Foi sem nunca ter ouvido
de seus filhos a doçura
que mais sabia ser: mãe.
O seu nome maternal
era cantado por nós,
repetindo a nota si.
Era um nome nome musical
A pronúncia de Cici.

(Do Livro do Autor: Arroz de Pilão-1988)

 

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CONSELHO DE MEU PAI (*)

 

(Tarquinio C. Leite)

 

O algodoeiro já floriu.
Faz tempo que a juriti cantou
no amanhecer e que eu subi
os degraus da escola.

Preciso crescer mais;
nem sempre sou bom como a chuva
no sertão nordestino.
Às vezes sou agressivo
como o pio do faminto carcará.

- doutô, a saúde tem que ser
preservada,
a leitura é pão do espírito,
e não te esqueças de cultivar
amizades.

Continuo suando no tempo,
driblando pedras e a força
da maré da vida.

Agarrado à filosofia de meu pai,
tento manter a fera longe,
a vida próxima,
os livros nos olhos,
os amigos no peito.
Mas nem sempre chove
no sertão nordestino.

(Do Livro do Autor: Diapasão do Mormaço-1994)

 

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ARROZ DE PILÃO

 

(Tarquinio C. Leite)

 

Bota o arroz no pilão,
seguram mãos calejadas
roliça mão-de-pilão.
Soca Maria suando.
Soca Teresa gemendo,
na dança sincronizada,
suada, gemida, alada.

Quando, de uma, sovacos
respiram, a parceira soca;
e batem com muita força
a secura do arroz.

É hora da peneirada.
Rebola Maria, funga
Teresa, pinga e fumaça;
as cascas voam e o arroz desce,
como no vôo do tem-tem,
dando formas coreográficas
ao vento que vai-e-vem,
igual saudade açoitando
as lembranças de alguém.

(Do Livro do Autor: Arroz de Pilão)

 

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CONTRASTES E TROCADILHOS

 

(Tarquinio C. Leite)

 

Na árvore
mora a rola
fogo-pagou,
no asfalto,
o rolo
compressor.

No bosque
canta
o sabiá,
na escola,
o sabe “a”
descreve
o sabiá.

Na cidade
o homem mora
em edifício,
na roça,
é difícil
morar em edifício.

(Do Livro do Autor: Diapasão do Mormaço-1994)

 

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EU E A MUDANÇA

 

(Tarquinio C. Leite)

 

Conflitos de emoções na mudança.
Sou cidadão do mundo, viajando
Na equivocidade do fim. Lá me vou
Aos oito anos no rumo do poste de luz,
Na morrinha do carro de bois.
Tem um curral de saudades
para trás e um monte de dúvidas
para frente.
Meu primeiros suspiros tem a ternura
do canto do vim-vim e tristeza
do menino sem brinquedos.

Os bichos se desmancham nas nuvens,
enquanto eu respiro poeira e bosta
de boi no choro do carro de bois.
A alegria tem sabor de dúvida,
Mexendo em tenras raízes.

O oiteiro Peito-de-Moça some
Na revoada de lépidas borboletas,
O cheiro da terra é pó de saudades.

Eis-me, de repente, com síndrome
Do medo. Medo de partir,
Medo de ficar, medo da polícia,
Medo danado da escola.

E política, que é isso?
O carro não tem culpa do caminho,
Eu tenho dúvidas no espaço.
A viagem é estúpida. Estúpido
É o ferrão da tatajuba.

Começo conhecer este Brasil de Deus;
o caminhão, o poste de luz,
o matadouro público, de piso
cimento (onde o boi escorrega
para morrer). As ruas de areia branca.

Está consumada
da chapa para Pinheiro.
Oh, inútil saudade.

(Do Livro do Autor: Diapasão do Mormaço-1994)

 

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FLORES DE AÇUCENA

 

(Tarquinio C. Leite)

 

Como na vastidão da Antártica
(vista no televisor)
vejo abelhas embebidas
em flores de açucena
lá do meu Paraguaçu.

Eu era menino descalço
no mundo da bola,
mas sabia que não eram
flores de acácia
porque minha mãe dizia
que eram flores de açucena.

Hoje percebo
que já reverenciava
flores de açucena
quando menino,
mas reconheço
que antes de as venerar,
os insetos já as festejavam.

Resta-me o consolo
de relembrá-las.
apenas relembrá-las.

(Do Livro do Autor: Arroz de Pilão-1988)

 

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MINHA CASA

 

(Tarquinio C. Leite)

 

Minha casa é o corredor
por onde infinitas vezes
meus pés nus
deixaram marcas
da macega do sol, e
onde meu pai sorveu
o saibro da vida.

Lá, os dias
eram pequenos demais
e as noites
amanheciam na rede.
Lá, embalei sonhos
sob o (e)terno olhar
da minha mãe.

Minha casa é marca
azul no espaço
e refúgio amargo
do tempo.
Não sei de pedras
ou de mastros de sal
não enfrentados
na avidez das férias.

Minha casa soluça
meus gestos
e retém
meu grito de dor
pela ternura partida
nas asas
da prematuridade.

(Do Livro do Autor: Pedras do Caminho Azul-1990)

 

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Obrigada, pela visita!
Yara Maria