POESIAS 
                                                                DE:
                                                               
                                                                ALBERTO PEYRANO
                                                              (Autorizada 
                                                                a divulgação, 
                                                                pelo autor)
                                                               
                                                              TANGO 
                                                                FINAL
                                                              
                                                                
                                                                Final... 
                                                                final sem conseqüências,
                                                                final sem desacordos,
                                                                Final... 
                                                              Depois... 
                                                                não sei 
                                                                
                                                                Virá uma 
                                                                incerteza 
                                                                ou uma verdade. 
                                                                
                                                              Estou
                                                                ao ocaso de uma 
                                                                paisagem
                                                                sem sol,
                                                                que não 
                                                                tem luz à 
                                                                sua volta 
                                                                só um final. 
                                                                
                                                              Ontem
                                                                tivemos nossa 
                                                                quota 
                                                                nosso tempo
                                                                ontem...
                                                              Depois... 
                                                                talvez
                                                                perdemos o rumo
                                                                sem nada compreender
                                                              Ontem, 
                                                                
                                                                Fundi comigo nas 
                                                                minhas cinzas
                                                                sentindo
                                                                que eu ao fim 
                                                                perdi tuas mãos
                                                                sem aprender. 
                                                                
                                                              A 
                                                                rua é um 
                                                                preto túnel
                                                                que abrigou minha 
                                                                realidade,
                                                                é o rumo 
                                                                dos anseios
                                                                quando procura 
                                                                se aquietar.
                                                              É 
                                                                vendaval das almas
                                                                que estão 
                                                                sozinhas e ao 
                                                                azar.
                                                                A rua é 
                                                                minha velha amiga...
                                                                Vou sair...
                                                                já é 
                                                                tempo de crescer 
                                                                com minha verdade.
                                                               
                                                              **********
                                                              
                                                              
                                                                O 
                                                                DESESPERO PROFANO 
                                                                
                                                               
                                                              Por 
                                                                essa janela ouço 
                                                                passar o tempo... 
                                                                
                                                                Ontem era nunca... 
                                                                amanhã 
                                                                é sempre... 
                                                                
                                                                Não ser 
                                                                temporário 
                                                                que efêmeramente 
                                                                
                                                                arrebata a consciência 
                                                                
                                                                num eterno baixar 
                                                                de pescoço 
                                                                
                                                                que a nada conduz, 
                                                                
                                                                onde o passo dado 
                                                                
                                                                é um cego 
                                                                desafio para o 
                                                                nada... 
                                                                E o pescoço 
                                                                volta, 
                                                                permanentemente.... 
                                                                
                                                                querendo pegar... 
                                                                o que? 
                                                                Desfrutar um pouco 
                                                                mais o que já 
                                                                passou? 
                                                                A roda colossal 
                                                                dos três 
                                                                ponteiros 
                                                                se afiança 
                                                                em cada instante 
                                                                
                                                                que equivalem 
                                                                a séculos 
                                                                
                                                                ou talvez a eras 
                                                                
                                                                para os quais 
                                                                não encontramos 
                                                                mais significado 
                                                                
                                                                do que um inseto 
                                                                
                                                                lhe daria em meia 
                                                                hora... 
                                                                Enquanto o corpo 
                                                                é lançado 
                                                                
                                                                para o infinito 
                                                                e temido o novo 
                                                                instante 
                                                                transitando seu 
                                                                caminho para o 
                                                                final, 
                                                                em eterna desobediência 
                                                                
                                                                a alma 
                                                                desanda sua senda 
                                                                inutilmente. 
                                                                O centro luminoso 
                                                                do sincrônico 
                                                                
                                                                medita só 
                                                                a conexão 
                                                                com O Divino, 
                                                                
                                                                com o permanente, 
                                                                
                                                                com o que não 
                                                                foi nem será 
                                                                
                                                                mas que é. 
                                                                
                                                                Se o velho Cronos 
                                                                
                                                                deixasse de dar 
                                                                voltas eternas 
                                                                
                                                                à sua ampulheta 
                                                                de cristais já 
                                                                embaçados, 
                                                                
                                                                não ganharia 
                                                                o homem 
                                                                mais do que o 
                                                                desespero profano 
                                                                
                                                                ao perder as referências 
                                                                
                                                                de seus espelhos 
                                                                irremediáveis. 
                                                                
                                                               
                                                              ***********
                                                              
                                                              
                                                                O 
                                                                GRITO DA AMAZÔNIA 
                                                                
                                                               
                                                              Amazônia, 
                                                                mãe amada! 
                                                                
                                                                Grito vital da 
                                                                terra
                                                                Que clama sua 
                                                                grande dor.
                                                                Hoje a onça 
                                                                agonizante
                                                                O rosto do índio 
                                                                lambeu 
                                                                E se abraçaram 
                                                                as árvores 
                                                                
                                                                Chorando por teu 
                                                                martírio.
                                                                De Manaus a Porto 
                                                                Velho,
                                                                De Macapá 
                                                                ao Xacurí
                                                                Surge uma voz 
                                                                entre sombras
                                                                Que alerta a Humanidade:
                                                                "Filho, estou 
                                                                dolorida"!
                                                                "Filho meu, 
                                                                cuida de mim"! 
                                                                
                                                                Só a metade 
                                                                consciente 
                                                                Dos teus filhos, 
                                                                escutou. 
                                                                Só a metade 
                                                                que sente 
                                                                Tua tristeza e 
                                                                teu penar.
                                                                A outra metade, 
                                                                arrasa
                                                                Tua riqueza natural. 
                                                                
                                                                A outra metade 
                                                                só escuta
                                                                A música 
                                                                material.
                                                                A noite traz a 
                                                                Lua
                                                                O rio se põe 
                                                                a dormir, 
                                                                A selva vela em 
                                                                silêncio
                                                                Esperando o que 
                                                                há por 
                                                                vir... 
                                                                Enquanto o índio 
                                                                e a onça,
                                                                Irmãos 
                                                                no sofrer,
                                                                Secam suas lágrimas 
                                                                vãs,
                                                                Abrindo as veias 
                                                                da alma
                                                                E regam teu velho 
                                                                solo
                                                                Com dor, sangue 
                                                                e amor.
                                                               
                                                              ***********
                                                               
                                                              
                                                              ALMA 
                                                                POMBA 
                                                               
                                                              Voa 
                                                                minha alma inteira 
                                                                , 
                                                                Pomba que acordou 
                                                                na tarde 
                                                                Sobre a beira 
                                                                do mar. 
                                                                Tem o seu voo 
                                                                errando 
                                                                Pois perdeu a 
                                                                orientação 
                                                                
                                                                E andando por 
                                                                esses céus 
                                                                
                                                                Já é 
                                                                uma nuvens más. 
                                                                
                                                                Embora quiser 
                                                                voltar 
                                                                Ao velho cais 
                                                                do qual partiu 
                                                                
                                                                Minha alma já 
                                                                não poderia 
                                                                
                                                                Nunca jamais retornar. 
                                                                
                                                                Pomba que na tarde 
                                                                voa 
                                                                Sem rumo, sem 
                                                                descansar.
                                                                
                                                              ***********
                                                              
                                                              
                                                                SAUDADE 
                                                                
                                                              
                                                                Abraça-me 
                                                                nos seus braços
                                                                Provocando em 
                                                                mim
                                                                A fome daquilo 
                                                                que não 
                                                                pôde ser
                                                                
                                                                Canta-me seu canto
                                                                Tangendo aos meus 
                                                                ouvidos
                                                                A triste canção 
                                                                de adeuses do 
                                                                ontem
                                                                
                                                                Beija-me com beijos 
                                                                de amantes
                                                                Com risos de antanho
                                                                Com tardes do 
                                                                sertão 
                                                                
                                                                Que ontem percorri
                                                                
                                                                Sopra-me aos ventos 
                                                                para aqueles
                                                                Aos que entreguei
                                                                A esperança 
                                                                vã do meu 
                                                                coração.
                                                                
                                                                Traz minha infância
                                                                Minha primeira 
                                                                namorada
                                                                Meus velhos avós 
                                                                que não 
                                                                voltarão.
                                                                
                                                                Pinta-me nos olhos
                                                                As árvores 
                                                                quietas
                                                                Sob cuja sombra 
                                                                foi 
                                                                Embora minha infância.
                                                                
                                                                A saudade invade,
                                                                A saudade mata,
                                                                Ela é a 
                                                                serpente que afoga 
                                                                a fé.
                                                               
                                                              ***********
                                                               
                                                              
                                                              
                                                                O 
                                                                PECADO ORIGINAL 
                                                                
                                                               
                                                              
                                                                Incinero-me em 
                                                                mil sóis
                                                                quando intrépido 
                                                                saio
                                                                para o labirinto 
                                                                vão de 
                                                                almas sem encontro.
                                                                Além, o 
                                                                horizonte,
                                                                Sem se perfilar, 
                                                                arrisca a sua 
                                                                permanência.
                                                              Contudo, 
                                                                a minha lágrima
                                                                me diz que algum 
                                                                dia senti
                                                                este ser humano 
                                                                que hoje rodeia
                                                                a minha existência.
                                                              Desouço 
                                                                as vozes absurdas
                                                                que querem me 
                                                                deter e anular.
                                                                Vibro em mil corações,
                                                                em milhões 
                                                                de gargantas que 
                                                                não gritam,
                                                                em ruídos 
                                                                e confusões 
                                                                de angustias cotidianas
                                                                que em vão 
                                                                buscam a descarga.
                                                              Estamos 
                                                                todos sob o céu
                                                                sem levantar a 
                                                                vista para vê-lo!...
                                                                Nossa brasa vital
                                                                poderia encontrar 
                                                                a eternidade nesse 
                                                                gesto!
                                                              Nosso 
                                                                presente,
                                                                feito de pés 
                                                                apressados,
                                                                de mãos 
                                                                remexendo os bolsos,
                                                                de não 
                                                                saber quem tenho 
                                                                a meu lado,
                                                                perde a eternidade 
                                                                a cada instante.
                                                               
                                                              *********